A dica de filme de hoje vai para Pornocracy, que apesar do nome, não tem nada de pornográfico. É um documentário francês a respeito das novas multinacionais do sexo, que começou em 2007 com a criação dos “tubes” (pornohub, x-videos, pornotube, tube8 e uma infinidade de sites gratuitos e escancarados de sexo online) e o impacto que eles tiveram na indústria pornográfica, relacionamento entre atores e atrizes e a industria das “cam-girls”.
Ele investiga uma pergunta que já estava no ar há muito tempo: “Como que estes sites ganham dinheiro?” E a resposta pode ser muito mais assustadora do que você imagina. Espalhados por inúmeros países, a maioria um tanto suspeitos, como Colômbia, Luxemburgo, Chipre (lar dos diamantes de sangue), Holanda e Canadá, estes sites gigantescos (que chegam a estar entre os 20 mais visitados do mundo) jogam com o trafego de visitações e a compra e venda de propagandas e cliques para lavagem de dinheiro entre países de uma maneira que faria a bancada dos políticos brasileiros parecerem um bando de amadores.
Hot Girls Wanted causou polêmica em janeiro durante sua exibição no Festival de Sundance. Dirigido pela dupla Jill Bauer e Ronna Gradus, do também controverso Sexy Baby (2012), o longa-metragem narra a história de jovens norte-americanas próximas dos 18 anos que abandonaram suas vidas em busca de realizarem seus sonhos, sejam eles quais forem. Durante encontro com a imprensa em Los Angeles, Gradus fez questão de enfatizar em sua fala que Hot Girls Wanted não era um documentário “sobre putas”, mas sim sobre “românticas incuráveis”.
Polêmicas à parte, uma das virtudes do longa, disponível no serviço de streaming Netflix, é problematizar a questão. Hot Girls Wanted não glamouriza o mercado da pornografia amadora. Ao acompanharmos o dia a dia de quatro jovens que responderam um anúncio do site Craiglist, somos apresentados aos bastidores de uma indústria que gera bilhões de dólares ao ano, mas que exaure a alma de quem se envolve com ela.
Nas entrelinhas, o documentário mostra que o dinheiro fácil e a fama que seduz continuamente várias jovens norte-americanas (a frase do “recrutador” de que todos os anos milhares de mulheres completam 18 anos, idade mínima exigida por lei para fazer filmes pornográficos, talvez seja uma das mais emblemáticas do filme) escondem outras desventuras como o machismo, imperante na indústria pornográfica, que perpetua a representação da mulher enquanto objeto e submissa.
“Nas entrelinhas, o documentário mostra que o dinheiro fácil e a fama que seduz continuamente várias jovens norte-americanas escondem outras desventuras como o machismo.”
Ao contrário do que prega o senso comum, no qual cremos que a pornografia é o último recurso para mulheres e homens que por ela se aventuram, Hot Girls Wanted relata experiências de um grupo de meninas formadas, inteligentes, com famílias estruturadas, que se envolvem sem saber exatamente com o quêe, não em busca por sexo, mas procurando uma forma de escape de suas monótonas realidades.
De fácil no documentário apenas a forma de contratá-las para uma carreira que, para a maioria delas, não terá vida longa. No mundo pornô o usuário se cansa rapidamente das atrizes, procurando sempre caras novas. Quanto mais jovem for sua aparência, maiores os ganhos e as oportunidades. Hot Girls Wanted não reinventa a roda dos documentários, mas cumpre bem seu papel ao problematizar a poderosa indústria do sexo